Reveja outras expedições

UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

CATAMARCA – ARGENTINA – AS PRÉ-CORDILHEIRAS

               A viagem de janeiro de 2006 seria um marco, para o conhecimento da fitogeografia da América Meridional e para a compreensão de diversos quadros paisagísticos que se manifestam aqui mesmo, no Brasil. Por isso, tenho resistido a tratar a Fitogeografia do Brasil, em separado daquela do restante do continente. Tudo que vemos, a caminho dos Andes, mostra pedaços da história natural do restante dos territórios a leste. Entender a natureza da Plataforma Brasileira, sem lançar um olhar cuidadoso à Cordilheira, será tarefa impossível.

               Deixando para trás as planuras quentes do Chaco, entre Corrientes e Santiago Del Estero, mergulhamos mais fundo no interior da Argentina, bordejando os semidesertos centrais (que reencontraríamos mais tarde) e ascendendo os primeiros segmentos das pré-cordilheiras. Quando se elevaram as imensas massas de rocha, que formaram os Andes, desde mais de uma centena de milhões de anos atrás, foram empurradas para cima grandes extensões de áreas sedimentares muito antigas, que se dobraram em ondas de choque, que ainda ocorrem, ativamente. Surgiram, a partir desses choques contínuos, as pré-cordilheiras, que são cadeias montanhosas praticamente paralelas aos Andes, entre as quais se desenvolveram corredores evolutivos e migratórios que marcaram a flora de todo o restante da América do Sul.

               Ganhamos as primeiras pré-cordilheiras, na altura de San Fernando Del Valle de Catamarca, ou simplesmente Catamarca, no noroeste argentino. Fundem-se ali: vegetações campestres (bastante similares aos campos rupestres brasileiros); semidesertos; e vegetações relacionadas ao Chaco. É o reino das cactáceas, misturadas a bromeliáceas adaptadas à aridez e ao frio, como Tillandsia spp., Deuterocohnia spp. e Dyckia spp. O espetáculo florístico que se dependura, em despenhadeiros vertiginosos, açoitados por ventos fortíssimos, é inesquecível e nos deixou a certeza de que um dia voltaríamos a esta admirável região, para uma visita mais detalhada.


Abaixo – As paisagens da pré-cordilheira de Catamarca se mostra em muito similar àquela da Cadeia do Espinhaço, no Brasil. Sua flora, no entanto, em tudo difere, tanto quanto os traços culturais de sua gente




Acima – Detalhe de um afloramento rochoso, na região de El Alto, abrigando bromeliáceas do gênero Deuterocohnia e diversas cactáceas diminutas, especialmente do gênero Parodia




Adiante – Ainda nas planuras do Chaco, próximo a Santiago Del Estero, medidas singulares de economia fizeram os argentinos optar por uma rodovia com apenas UMA pista de rolamento pavimentada, que era negociada entre os motoristas, quando se cruzavam



  
A Seguir – A estonteante flora da pré-cordilheira de Catamarca, congregando quantidade impressionante de bromeliáceas e cactáceas, que mostram evidentemente a rota migratória entre os Andes e a Plataforma do Brasil







Acima – Árvores lotadas de Tillandsia cf. didisticha se debruçam sobre os despenhadeiros do Valle de Catamarca
Abaixo – Paisagens do profundo Valle de Catamarca, onde se encontra encravada a cidade de San Fernando Del Valle de Catamarca





Acima – El cardón, o imenso cacto colunar (Trichocereus atacamensis) que surge como escultura, em meio à vegetação miniaturizada dos despenhadeiros de Catamarca
Abaixo – Cactáceas do gênero Parodia florescem lindamente, enquanto se penduram na rocha íngreme do Valle de Catamarca


A Seguir – Em El Alto, numa praça pública,  um oratório foi escavado, num curioso exemplar da paineira (Ceiba cf. pubiflora – família Malvaceae)



terça-feira, 17 de setembro de 2013

CORRIENTES – ARGENTINA – ATRAVESSANDO O CHACO ÚMIDO

               Em janeiro de 2006, atravessamos, pela primeira vez, o lendário domínio do Chaco Argentino, na região de Corrientes. A cidade de Corrientes, à margem esquerda do rio Paraná, é um marco tradicionalista, na América Meridional. Terra de história e de Chamamé (uma belíssima dança gaúcha), Corrientes é o portal do Chaco, um bioma que abarca grande parte da Argentina, Paraguai e Bolívia, tocando o Brasil em dois enclaves: Na Barra do Quaraí (ver http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2012/10/parque-estadual-do-espinilho-barra-do.html ), à forma de Parque de Espinilho; e na região pantaneira de Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul (futuramente no blog). Caracteriza o Chaco um clima frio de inverno, em contraste com um dos maiores calores da América do Sul, durante o verão. De fato, entre Corrientes e Santiago Del Estero, nesta viagem, enfrentamos calor da ordem de 43oC. No inverno, as temperaturas chegam a bater ali nos -8oC.

               Entender a vegetação do Chaco e tudo o que estávamos por ver, dali para as Pré-Cordilheiras dos Andes, a oeste, é desafio superlativo, que não tínhamos a pretensão de cumprir, em tão curta permanência. Porém, a travessia dessas áreas subtropicais correspondeu a marco conceitual, para a compreensão de muito daquilo que vemos em nossas próprias terras brasileiras. Está ali, para ser oportunamente contada, boa parte da história natural das paisagens sul-americanas.

               A seguir, um pouco do que vimos, no Chaco Argentino, na região de Corrientes:


Adiante – Adentrando o centro-norte da Argentina, atravessamos o Chaco, uma vegetação de natureza savânica, cuja flora se adaptou para uma alternância estacional entre calor descomunal e frio intenso. De longe, o Chaco Úmido lembra o Pantanal Mato-Grossense, com o qual confina, no Centro-Oeste do Brasil. Internamente, contudo, difere muito de nossa flora estacional semidecidual


Acima – Belo tronco de Schinopsis balansae (família Anaracdiaceae), conhecido como quebracho-colorado. Juntamente com Aspidosperma quebracho-blanco (Apocynaceae), já foi madeira cobiçada, na Argentina, até sua quase completa extinção


Acima – A bromélia Pseudananas sagenarius, assim como Aechmea distichantha e Bromelia sp., é planta importante, no sub-bosque do Chaco Úmido, formando populações extensas e intransponíveis, tal como ocorre no Semiárido do Nordeste, no Brasil, com algumas outras bromeliáceas.

Abaixo – Vista interna de um trecho da vegetação típica do Chaco, cuja semelhança com a Caatinga já fez imaginar que seriam uma só vegetação. Trabalhos recentes comprovaram terem se separado há muito tempo, ainda no Terciário



Acima – O açucará (Gleditsia amorphoides – família Fabaceae) é uma árvore comum, no Chaco Úmido, sendo compartilhada com a floresta estacional semidecidual da bacia do rio Paraná, no Brasil, de onde vínhamos, nesta viagem

Abaixo – As áreas alagáveis do Chaco Úmido são geralmente cobertas por plantas herbáceas com flores vistosas, do gênero Canna (família Cannaceae), ou por tapetes verdes de plantas aquáticas macrófitas





A Seguir – Aspectos típicos da cidade argentina de Corrientes, na margem do imenso rio Paraná







sábado, 14 de setembro de 2013

FOZ DO IGUAÇU – FLORESTAS ESTACIONAIS - DEZEMBRO DE 2005


               A caminho de nossa primeira expedição à Argentina, entre 2005 e 2006, realizamos uma ligeira visita às florestas do Parque Nacional do Iguaçu, no oeste do Paraná, tríplice fronteira entre nosso país, Argentina e Paraguai. Essas matas, quase desaparecidas, já haviam sido visitadas, tanto ali na Foz do Iguaçu, quanto mais ao interior do Paraguai, em 1981, durante viagem à fronteira agrícola em plena expansão, naquele país, de onde desapareceram por completo, desde então. Tratam-se das mesmas florestas estacionais semideciduais do vale do rio Paraná, que já andamos a comentar, em nossa postagem sobre a expedição ao Rio Grande do Sul, no outono de 2013 (ver -http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2013_05_01_archive.html ).

               O encontro do rio Iguaçu, que nasce no Planalto de Curitiba, cerca de 900m acima do nível do mar, com o grande rio Paraná, se dá numa altitude de cerca de 180m, sendo a região inteiramente dominada pela floresta estacional. Isso é: Onde ela ainda não foi inteiramente derrubada. O Parque Nacional do Iguaçu abriga o mais representativo fragmento desta lendária floresta, que outrora revestiu quase o inteiro estado do Paraná, ao menos na faixa de altitude até seus 500-700m. Também preserva sua mais notável atração: As quedas do rio Iguaçu, um dos mais deslumbrantes cenários naturais de todo o Mundo.

               O exame dessas florestas foi fundamental, não apenas pela sua importância fitogeográfica, para as Seasonally Dry Tropical Forests (SDTF) da América do Sul, mas também por que elas fazem a transição entre nossa Floresta Atlântica e o Chaco, para onde estávamos nos dirigindo. A seguir, algumas imagens representativas desta memorável viagem de 2005/2006:

A Seguir - As cataratas ou quedas do Iguaçu são um dos mais conhecidos cartões postais do Brasil. Representam importante desnível dos patamares basálticos da Formação Serra Geral. O rio Iguaçu drena grande parte do território paranaense e o volume de suas águas varia consideravelmente: No verão, época em que por lá passamos, apresenta suas maiores vazões





Acima – Nos destaques, observam-se andorinhas, que nidificam junto às quedas, por vezes atrás das catadupas, encantando o visitante com seus voos rasantes


Adiante – Aspectos da floresta estacional semidecidual da bacia do rio Paraná, que reveste a maior parte do Parque Nacional do Iguaçu

Acima – Imensa quantidade de orquídeas Miltonia flavescens ocupa troncos e galhos das grandes árvores. Macacos-prego devoram seus pseudobulbos, sem que isso ocasione impacto considerável nessas numerosas populações


Acima – Os solos férteis derivados do basalto são o suporte da floresta estacional semidecidual da bacia do rio Paraná. Sua coloração é característica avermelhada, o que causa forte contraste com a mata verdejante
Notas as guaraívas (Cordyline spectabilis - família Laxmaniaceae), com suas lindas folhas longas e pendentes, que são elemento em comum com a mata de pinhais


Imensos madeiros se elevam retos, em meio a esta floresta valiosa. A farta quantidade de madeiras nobres de outrora motivou exploração desenfreada dessas florestas, levando-as à quase completa extinção



Acima – Peltophorum dubium (família Fabaceae) é elemento característico das SDTF da região, estendendo-se Chaco adentro. Na foto, as flores amarelas vistosas desta árvore, que se encontravam em seu apogeu, por ocasião da viagem


A Seguir – Algumas plantas importantes da floresta de Foz do Iguaçu


Acima – Taccarum sp. – família Araceae



Abaixo – Acanthostachys strobilacea – família Bromeliaceae: Planta característica das florestas estacionais do polo paranaense. Ocorre até SP e MG, em florestas secas



Acima – Campylocentrum sp. – família Orchidaceae: Esse gênero de curiosas plantinhas de crescimento monopodial acompanha as SDTF, adentrando o Chaco úmido, Argentina adentro


Acima - Os palmiteiros (Euterpe edulis – família Arecaceae) são elemento muito importante, nas florestas estacionais semideciduais da bacia do rio Paraná. Representaram, outrora, importante recursos florestal da região, tendo sido explorados à exaustão


Acima – Grandes populações de samambaiaçus (Cyathea delgadii – família Cyatheaceae) se desenvolvem nas clareiras naturais do Parque Nacional do Iguaçu


Acima – Nos alagados, às margens do rio Iguaçu, proliferam plantinhas palustres do gênero Rhodospatha (família Araceae), cujo verde profundo contrasta com as águas estagnadas de cor ferruginosa

Acima - Notáveis exemplares de Philodendron bipinnatifidum (família Araceae)são verdadeiras esculturas vivas, nos mais altos galhos das velhas árvores


Acima – Meu guia Marcelo posa ao lado de uma das árvores colossais da floresta estacional
Abaixo – o Autor-viajante Orlando Graeff, junto às simpáticas araras-canindé do Parque das Aves, belo projeto de conservação das aves nativas da região





Acima e Abaixo – A temível cascavel deu nome à cidade vizinha a Foz do Iguaçu (Cascavel – PR). Até encontrá-la, em meio à floresta densa do Parque Nacional, eu jamais poderia crer em sua presença, no interior de áreas úmidas. Elas seguramente representam ali um testemunho de épocas mais secas, em toda a região, em passado Quaternário




Cores da floresta


Abaixo - Vista geral de um braço morto do rio Iguaçu emoldurado por fragmentos da floresta estacional semidecidual da bacia do rio Paraná