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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

domingo, 19 de março de 2017

PANTANAL DOS MONTEIROS – RIO NEGRO – MATO GROSSO DO SUL 2007 - 2009


Acima - jacaré-do-pantanal

Por duas vezes, visitei o Pantanal do Rio Negro, no Mato Grosso do Sul – 2007 e 2009, tendo como base a Pousada dos Monteiros. A primeira, em companhia de Maurício Verboonen e a segunda de Sérgio Basso. A Pousada dos Monteiros, situada na RPPN de mesmo nome, carrega esse nome por duas razões que estabelecem feliz coincidência: primeiramente, pelo que diz respeito ao nome da família proprietária – Monteiro – dos quais conhecemos Marcela e Artur, mãe e filho, apaixonados pelo Pantanal e sua vida silvestre; a segunda é a presença dos porcos-monteiros, que são porcos domésticos asselvajados há anos e que são hoje presença constante em quase todo o Pantanal.

A visita ao Pantanal dos Monteiros foi fundamental para a compreensão de diversos aspectos fitogeográficos do subdomínio denominado Pantanal da Nhecolândia e Aquidauana, cujas paisagens são determinadas pelos sedimentos Quaternários do Leque Aluvial do Taquari. A partir dessa preciosa imersão, em que pudemos contemplar não apenas a fauna e a flora, mas também a geomorfologia característica deste setor, foi possível conferir importantes hipóteses históricas naturais sobre esse célebre Bioma Pantanal. Em meu livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015 - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ), apresentei muitos dos resultados dessas pesquisas de campo.

Nas fotos desta postagem, aparece um pouco sobre a natureza desta região tão singular da maior planície inundável do Planeta.





Acima - O rio Negro nasce nos contrafortes da Serra de Maracaju, que é a borda do Planalto Brasileiro. Esta cachoeira representa seu primeiro salto, no rumo do Pantanal Sul, onde centraliza uma interessante região alagável.
AbaixoNorantea guianensis (Marcgraviaceae) é a notável liana chamada de rabo-de-arara, que vegeta nos ambientes rochosos, sobre essas vertentes



A Seguir – Sobre essas bordas do Planalto Brasileiro, debruçados sobre a depressão pantaneira, estende-se corredor de vegetações semiáridas, ligadas ao Chaco. Durante anos, a Geografia entendeu haver ali uma ligação recente com o Bioma Caatinga, o que foi recentemente rejeitado por estudos estatísticos comparativos entre as duas floras (Chaco e Caatinga).

AcimaCereus hildmannianus é uma cactácea numerosa, em meio ao corredor de vegetações de índole semiárida da borda do Pantanal Sul




Acima – Notáveis populações de bromeliáceas espinescentes (Dyckia cf. ferruginea) se acercam das bordas rochosas da Serra de Maracaju, formando corredores de vegetação semiárida


Abaixo – Da baixada pantaneira, pode-se vislumbrar o extenso conjunto de escarpas da Serra de Maracaju, que é a frente erosiva do Planalto Brasileiro, a formar a borda oriental do Pantanal Matogrossense.


Acima – Orlando Graeff, em meio ao cerradão denso, que cerca a base das escarpas da Serra de Maracaju

A Seguir – Os poucos terrenos relativamente secos ou pouco alagáveis, na primeira vertente do Pantanal Sul, são dominados pelas lixeiras (Curatella americana – Família Dilleniaceae)




Adiante – As áreas predominantemente inundáveis são colonizadas a duras penas, por poucas espécies arbóreas, que conseguem algum solo drenado, no topo dos termiteiros – cupins – juntamente com cactáceas escandentes, como Hylocereus setaceus.







Acima – O Pantanal praticamente não possui flora própria, constituindo-se de um complexo pool de vegetações e elementos florísticos importados de formações ao redor. Nesta imagem, uma “cordilheira” pantaneira, coberta por elementos diversos, tais como: Cambarás (Vochysia divergens – Vochysiaceae), palmeiras-bocaiúva (Acrocomia aculeata – Arecaceae) e; Sucupira-preta (Bowdichia virgilioides – Fabaceae).



Acima – As “cordilheiras” do Pantanal não são extensas montanhas, como o nome poderia sugerir. São cordões de terrenos levemente elevados que, por escaparem da inundação da planície, sustentam vegetação arbórea. A linha de alagamento anual pode ser interpretada, nesta imagem, pelo limite entre as bromélias (Bromelia cf. balansae) e o pasto aberto.

Abaixo – Vista de uma “cordilheira”, na Fazenda São João, no Pantanal do rio Negro, Mato Grosso do Sul, abrigando flora complexa, onde se destacam, pelo porte, o tarumã (Vitex cymosa – Família Lamiaceae) e; os ipês e paratudos (Handroanthus spp. e Tabebuia aurea – Família Bignoniaceae). Trecho de solos muito suavemente elevados, descendentes de velhas dunas eólicas do Quaternário e de diques marginais são tudo com que alguns fragmentos de matas semideciduais podem contar para se estabelecer, em meio ao Pantanal do rio Negro




A Seguir – Decididamente não é o gado que aparece nesta imagem, apesar da tranqüilidade da cena. São veados-campeiros (Ozotocerus bezoarticus), que, aos bandos numerosos, convivem pacificamente com a pecuária do Pantanal Sul.




Acima – Um macho maduro de veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus) passeia tranquilamente pela Fazenda São João, tendo atrás de si um pequeno trecho de caronal, vegetação herbácea que, primitivamente, dominava as áreas abertas do Pantanal.

Abaixo - Mais um grupo de veados-campeiros da Fazenda São João, no Pantanal Sul. A fauna é atração turística principal de toda a região e os encontros são sempre uma certeza.



Abaixo – Um dos animais mais belos e misteriosos do Pantanal é o cervo-pantaneiro (Blastocerus dichotomus), com seu porte avantajado e fronte inconfundível. Este macho maduro de cervo pastava em meio ao caronal alagado da Fazenda São João



 Adiante – Como seria de se esperar, a fauna pantaneira mantém estreita relação com sua flora. O mandovi (Sterculia striata – Família Malvaceae = Sterculiaceae) é capítulo importante destas relações, por ser procurado pelas araras e outras aves, não somente para alimentação, como para nidificação.




Acima – As araras-canindé (Ara ararauna) são as mais facilmente avistáveis, sobre as copas dos mandovis (Sterculia striata). 
Abaixo – Mas, quem realmente manda no ambiente das copas dos mandovis (Sterculia striata) são as araras-azuis-do-pantanal (Anodorhincus hyacintinus), as maiores a mais fortes, dentre todas, formando bandos numerosos.




Acima – As araras-piranga (Ara chloroptera) chegam na primavera e disputam lugar no “condomínio” dos mandovis, para sua nidificação que, em outras áreas, ocorre preferencialmente nas escarpas de arenito.

Acima – Até o murucututu-da-cara-branca (Pulsatrix perspicilata) acorre ao mandovi, para reprodução e este filhote foi observado em outubro de 2009, no capão da Fazenda São João, no Pantanal do rio Negro, MS.

Abaixo – Os patos (Cairina moschata) acorrem às áreas alagadiças, em busca de alimento, no Pantanal Sul.



Abaixo – Esta paisagem de vazante inundável, no Pantanal Sul, poderia ser facilmente confundida com uma outra, que registramos na Argentina, em 2006, no Parque Nacional Chaco (postagem - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2013/09/corrientes-argentina-atravessando-o.html), região de Corrientes, na Argentina. A convergência fisionômica e tipológica, contudo, é prontamente desfeita, ao examinarmos suas floras, que são notavelmente distintas, como explicamos no livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL.





Acima - O mais representativo integrante da fauna pantaneira é, decididamente, a capivara (Hydrocharis hydrochaeris), o maior roedor do Planeta, podendo chegar aos 50kg – Detalhe da paisagem da imagem anterior.

A Seguir – Quase todas as fisionomias vegetacionais do Brasil Central podem ser observadas no mosaico fitogeográfico pantaneiro, ocorrendo de forma oportunista. Um babaçual – extenso adensamento de palmeiras-babaçu (Attalea speciosa – Família Arecaceae = Palmae) foi observado, em meio ao Pantanal do rio Negro.


 Acima - Detalhe de palmeira-babaçu (Attalea speciosa – Família Arecaceae = Palmae), na Fazenda São João, Pantanal Sul, MS.

A Seguir – Palmeirinha acaule Allagoptera leucocalyx formando populações agrupadas, em meio ‘as lixeiras (Curatella americana – Dilleniaceae)





Acima - Outro elemento florístico de grande importância e representatividade de todo o Pantanal é a palmeira-acuri (Attalea phalerata – Família Arecaceae = Palmae). Na Fazenda São João, forma populações adensadas, juntamente com os Mandovis (Sterculia striata – Família Malvaceae = Sterculiaceae), sombreando maciças colônias de Bromelia cf. balansae – Família Bromeliaceae). É a vegetação característica das cordilheiras pantaneiras da Nhecolândia

Acima - Nas bainhas das palmeiras-acuri (Attalea phalerata), medram orquídeas conspícuas da flora do Brasil Central, tais como Vanilla palmarum

Acima – O famoso “abraço da morte”, em que uma figueira-mata-pau (Ficus sp. – Moraceae) estrangula gradualmente uma dessas palmeiras-acuri, formando quadro paradoxalmente sensual e belo

A Seguir  – Os jacarés-do-pantanal (Caiman crocodilus yacare) já foram levados ao limiar da extinção, na Década de 1980. Mas suas populações retornaram a níveis muito satisfatórios, depois de anos de proteção. No rio Negro, Pantanal Sul, podem ser facilmente observados.




Acima – O jacaré-do-pantanal (Caiman crocodilus yacare) cuida com muita atenção de sua prole, podendo ser observado nesta função, nas margens do rio Negro, Pantanal Sul.

Acima – Gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis)




Acima – Orlando Graeff pousa para uma foto, em 2007, ao lado de Artur Monteiro, da Pousada dos Monteiros, na margem de um dos tributários do rio Negro, no Pantanal Sul.

Acima – Maurício Verboonen e Artur Monteiro


Acima – Orlando Graeff e Sérgio Basso, num momento de descontração, em outubro de 2009, na borda do capão dos mandovis, na Fazenda São João, na qual está situada a Pousada dos Monteiros, MS.



Acima – Lianas da família Bignoniaceae são um dos mais belos e interessantes capítulos da flora da região e bem mereceriam estudo detalhado


Abaixo – O lendário pôr do sol pantaneiro, um dos mais belos do país


domingo, 5 de março de 2017

INVESTIGANDO A FLORESTA-GALERIA DA RESERVA NATURAL DA FAZENDA IPANEMA, MATO GROSSO

Durante fevereiro de 2017, realizei diversas atividades investigativas, na Reserva Natural da Fazenda Ipanema, em Primavera do Leste, estado do Mato Grosso. Em meu livro – FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015) – a Fazenda Ipanema e suas reservas de cerrados, cerradões, veredas e florestas-galeria foi continuamente citada, por ter propiciado importante laboratório de observações fitogeográficas. A partir de anos de vivência, neste esplêndido conjunto de ecossistemas, me foi dado conferir as hipóteses mais factíveis para explicar a origem e dinâmica desses ecossistemas do Centro-Oeste. Agora, na esteira da organização da Reserva, com vistas ao manejo futuro, surgiram novas oportunidades de observação de sua flora, especialmente de suas magníficas florestas-galeria.

Já haviam sido aqui publicadas outras postagens sobre a Reserva Natural da Fazenda Ipanema, podendo ser conferidas em:  http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2013/02/fazenda-ipanema-conservando.html ; http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2014/09/fazenda-ipanema-mato-grosso-registrando.html  . Desta vez, as atividades foram concentradas na chamada Trilha da Sanga (ver postagem -  ), que atravessa uma das mais bem conservadas áreas deste tipo de vegetação, na região de Primavera do Leste.

A Reserva Natural da Fazenda Ipanema congrega conjunto interligado de tipologias vegetacionais, que parecem corroborar as hipóteses defendidas em minha obra, no que diz respeito às estreitas relações originais entre veredas, matas ciliares e florestas-galeria. Veja algumas belas imagens e comentários sobre essas matas inundáveis da margem do rio das Mortes, a seguir:

Abaixo – Num sobrevoo da área da sede da Fazenda Ipanema, onde se encontra situada a Trilha da Sanga, efetuado com auxílio de drone, pode ser visto o adensamento de árvores elevadas, na floresta-galeria, onde abundam: Magnolia ovata (Magnoliaceae), Cariniana rubra (Lecythidaceae), Jacaranda copaia (Bignoniaceae), Qualea ingens (Vochysiaceae), entre outras árvores adaptadas ao ambiente saturado de umidade.




Acima – Aspecto interno da Trilha da Sanga, que corta diametralmente a floresta-galeria situada próximo à sede da Fazenda Ipanema


AcimaMagnolia ovata (Magnoliaceae) é um elemento botânico dos mais importantes, na flora deste trecho de floresta-galeria, chegando a dominar o estrato arbóreo e mostrando calos das raízes, que afloram no solo, servindo para melhorar a sustentação no terreno encharcado; e também para auxiliar na respiração radicular
Abaixo – Aspecto de uma árvore adulta de Magnolia ovata elevando-se no dossel



A Seguir – Aspectos de outra importante espécie de árvore de índole amazônica, nas florestas-galeria e ciliares da Reserva Natural da Fazenda Ipanema: o jequitibá-vermelho (Cariniana rubra – família Lecythidaceae), cujos troncos linheiros e copas sobranceiras impressionam

acima - o autor posa ao lado de um jequitibá-vermelho

Tronco linheiro de jequitibá-vermelho

Adiante – Algumas plantas típicas do sub-bosque encharcado da floresta-galeria, na Trilha da Sanga

Acima – Costus arabicus (Costaceae)

Acima – Heliconia psittacorum (Heliconiaceae)

Acima – Samambaias-trepadeiras (Polybotrya goyazensis  - Dryopteridaceae) escalam os troncos linheiros das árvores



Acima nas duas imagens – Uma delicada espécie de palmiteiro (Euterpe longibracteata) forma numerosas populações, que propiciam forragem importante para a bicharada

Acima – Scaphyglottis modesta, uma discreta orquidácea, que abunda na floresta-galeria

Acima – A corpulenta orquídea Epidendrum floribundum é espécie típica desse brejos, embora não estivesse florida, nesta época

Acima – Philodendron acutatum (Araceae) – uma planta cujas folhas se agigantam, na medida em que ascende pelos troncos das árvores

Acima - A arácea Monstera adansonii é a planta mais numerosa da família, nas árvores da floresta ciliar da Reserva

A Seguir – Macacos-prego (Sapajus cay))formam bandos numerosos, na área da Trilha da Sanga:

 Acima – Macacos-prego se alimentam de frutos de Cupania scrobiculata (Sapindaceae)




Acima duas fotos – Os mesmos macacos atacam cladódios de Epiphyllum phyllanthus (Cactaceae), que vegetam de forma epifítica, nas árvores da floresta

AdianteHymenaea courbaril é o jatobá-da-mata, árvore que domina a floresta, na transição para o cerradão e o cerrado - ao final



 Abaixo - o autor, junto à sanga