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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

SERRA DA GRACIOSA – PARANÁ: TRINTA E TRÊS ANOS DEPOIS

Cerca de duzentos anos após Saint-Hilaire descer a Serra da Graciosa, no Paraná, ganhando o rumo do litoral, para onde seguiu viagem, vindo do interior do estado, lá estávamos nós, praticamente no mesmo rumo do naturalista. Em meu caso particular, algo próximo de trinta e três anos me separava de minha última visita, empreendida mais para buscar o surf, nas praias da região, do que para me debruçar sobre suas florestas e plantas. Assim, no dia 08 de dezembro de 2015, procedentes da capital Curitiba, aonde chegáramos, um dia antes, vindos de Paraty, que nos servira de base para explorar as matas de Picinguaba (ver postagem anterior), gastamos boa parte do dia observando a deslumbrante coleção de florestas, que se despenca desde o Planalto, até o litoral do Paraná, pela Serra da Graciosa.

A célebre Estrada da Graciosa perfaz mais ou menos o mesmo caminho utilizado pelo naturalista francês, que viajou grande parte de nosso país, no início do Século XIX, ajudando a desvendar muito de sua botânica e de sua fitogeografia: derivando da rodovia BR116, coisa de uns trinta quilômetros de Grande Curitiba, ela serpeia “graciosamente” pelas encostas íngremes da Serra do Mar, até chegar aos terrenos litorâneos do estado, perto de Morretes. Nos tempos em que a desci, pela última vez, já não era a trilha dura enfrentada por Saint-Hilaire. Mas, ainda contava com belo pavimento de paralelepípedos, hoje quase totalmente sepultados pelo mais frio asfalto.

De forma diferente de trinta e poucos anos atrás, quando passávamos muito tempo sozinhos, no meio da estradinha bucólica, sem ver passar qualquer outro carro, hoje trafega notável quantidade de veículos apressados, que carregam turistas sequiosos por chegar ao mar, sem que se deem ao trabalho de se deter um pouco e admirar as esplêndidas matas que guarnecem, estas sim, de forma inalterada, o cenário ao redor. Fomos, então, na medida do possível, parando em cada recanto visitado por mim, em 1982, para conferir, já com olhos mais maduros, os aspectos da biodiversidade das florestas.

A Estrada da Graciosa representa uma topossequência exemplar de climas, formas de relevo e, claro, vegetações e floras, desde os 850m, até próximo do nível do mar. Ao longo de quase 25km, o visitante poderá observar, tal como num corte teórico dos mais exemplares, desde a floresta subtropical de altitude, ainda contando com algumas araucárias (Araucaria angustifolia); até as magníficas florestas de baixada litorânea; passando pelas majestosas florestas tropicais pluviais de encosta atlântica. O leitor que, ao ler meu livro, recentemente editado pela NAU Editora (2015) – Fitogeografia do Brasil ; Uma Atualização de Bases e Conceitos – decidir conferir os capítulo sobre a Floresta Atlântica, confrontando-o aos antecedentes, dedicados à Geomorfologia e Clima, principalmente, poderá ali encontrar um perfeito transecto demonstrativo de todas as vegetações associadas a ela. Se decidir, então, seguir até Guaraqueçaba, para onde nossa expedição se dirigiu, após a Serra da Graciosa, completará sua contemplação das sequências topográficas, ao visitar as florestas alagáveis e manguezais (ver próxima postagem).

Observem, nas fotografias a seguir, alguns desses aspectos fascinantes da Serra da Graciosa e de sua flora:


Acima - Na floresta de altitude, com flora fundamentalmente subtropical, medram incontáveis plantas epífitas, que exibem suas vistosas inflorescências, no auge da primavera e adentrando o verão. Embora se pareçam com as florestas tropicais, que lhes vão aos pés da magnífica Serra do Mar, representam flora própria, mas que pode trocar elementos com aquelas.

A Seguir - Aspectos da floresta de altitude, que chega até a beira da crista da serra, para se desfazer gradualmente, por dentro da floresta tropical pluvial de encosta



Acima - Exibindo elementos que podem ser compartilhados, no Paraná, com as florestas de encosta e baixada, como os samambaiaçus-xaxim (Dycksonia sellowiana) e as bromélias Vriesea platynema, V. incurvata e algumas outras espécies, a floresta de altitude se beneficia da umidade constante, depositada pelas nuvens orográficas, que se encostam docemente na montanha, de forma quase ininterrupta.


Acima - A orquídea Brasilidium praetextum (=Oncidium enderianum) abunda em flores, nesta época do ano, em meio às bromélias da floresta de altitude.
Abaixo - Os samambaiaçus-xaxim (Dycksonia sellowiana) são especialmente numerosos, nas áreas de grande altitude da Serra da Graciosa, formando densas populações, em cujos caules fibrosos se instalam outras pteridófitas delicadas, além de orquídeas e bromélias.



A Seguir - Na medida com que se avança ao litoral, perdendo altitude e ganhando calor, a floresta se modifica bruscamente, dando lugar a árvores mais elevadas e imponentes, que suportam densos emaranhados de epífitas características, às quais se unem lianas e aráceas variadas. As chuvas são aí mais fortes e a maior parte dos rios do litoral nasce em meio a essas preciosas florestas



Os nevoeiros são também constantes, ajudando a manter a elevada umidade trazida pelas chuvas. É bastante agradável contemplar a floresta imersa na bruma, que lhe confere aspecto misterioso




Acima - Vriesea platynema é uma bromélia compartilhada com as regiões de altitude. Porém, somente atingirá seu apogeu, se vegetar sob alta umidade, seja lá em cima da serra, seja cá mais próximo à Baía de Paranaguá
Abaixo - O curioso complexo em torno de Vriesea incurvata mostra toda sua pujança a partir da média encosta, ganhando força nas matas densas do litoral. Poucos negam o caráter enigmático que ainda lhe cerca a taxonomia




Acima - Riqueza suprema da Serra do Mar, em toda sua extensão: águas cristalinas e perenes, que nascem nas cristas montanhosas, nas serras da chuva, para chegarem ao mar, no Paraná, nos fundos da Baía de Paranaguá

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