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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

VISITA AO HABITAT DE BROMÉLIAS DO GÊNERO DYCKIA, NO MATO GROSSO – NOVEMBRO DE 2016

Dyckia rondonopolitana no seu habitat


Durante muitos anos, na Década de 1980, percorri a rodovia MT130, entre Rondonópolis e Poxoréo, no Sul do Mato Grosso, desde que esta representava nada mais que um caminho de terra, em rústicas condições, até vê-la asfaltada, anos depois. Trabalhando em Primavera do Leste, local onde hoje desenvolvemos o projeto de conservação de vegetações de Cerrado, denominado Reserva Natural da Fazenda Ipanema, residia em Rondonópolis, obrigando-me a cruzar aqueles duros caminhos, em tempos de fronteiras agrícolas nascentes. Naquele tempo, embora já investigasse a natureza, não me aproximara ainda das plantas da família Bromeliaceae, que viriam a ocupar importante papel, em minhas investigações científicas naturalistas.

Durante uma dessas viagens, obriguei-me a parar, em meio ao caminho, em função de obras de terraplenagem, que eram realizadas num trecho de serras sinuosas, para mitigar as endêmicas dificuldades representadas por afloramentos de arenito. Já um aficionado por orquídeas, atraí-me por exemplares de Epidendrum campestre, que haviam sido arrancados, juntamente com as pedras da estrada. Junto, coletei uma pequena bromélia espinhenta e de folhas quebradiças, que também haviam se transformado em lixo das obras. Cultivei a curiosa planta, por anos a fio, até vê-la perdida, numa das diversas mudanças de endereço da coleção de plantas.

ilustração de Epidendrum campestre (Orchidaceae) elaborada pelo autor, na década de 1980, a partir de material obtido neste mesmo local

Já devidamente iniciado no gosto pelas bromélias, nos anos 1990, quando geríamos a Sociedade Brasileira de Bromélias-SBBr, que impulsionava o conhecimento desta família botânica, me foi dado identificar o grupo a que pertencia aquela joia botânica – o gênero Dyckia – de imensa importância para a interpretação biogeográfica do nosso país, como bem apontou a Professora Doutora Rafaela Forzza, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Com o passar dos anos, incrementou-se o interesse pelas Dyckia spp. e seus habitats, ao largo dos corredores áridos do passado sul-americano, Brasil, em especial.

Em recente passagem pelo local, hoje modernizado pela concessão rodoviária, numa estrada pedagiada e de alta velocidade, decidi parar e visitar aquele mesmo trecho de arenitos, em busca de informações sobre essas curiosas plantas. Embora muito ligeira, a parada foi frutífera em contatos com essas plantas e ajudou a entender um pouco mais sobre a dispersão das Dyckia spp., ao largo do Planalto dos Alcantilados, unidade de paisagem associada aos pediplanos mato-grossenses, a que dediquei largos capítulos de meu livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL (NAU Editora, 2015 – link: http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ).
A antiga individualização de unidades de relevo das serras alcantiladas desta região, que perfaz ligação ecológica entre a Planície Pantaneira (a oeste) e Vale do Araguaia (a leste), tendo como corredores importantes o rio Vermelho (e São Lourenço), pelo lado pantaneiro, e o rio Garças, pela vertente araguaiana, parece ter originado concomitante diferenciação nas populações de espécies deste gênero Dyckia, como já havia atestado anteriormente, numa visita a outro habitat dessas bromélias (ver postagem - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/04/encontrando-novas-populacoes-de.html ). Também na RPPN João Basso, em Rondonópolis, havíamos observado diversas espécies deste gênero (ver postagem - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2013/03/rppn-joao-basso-cidade-de-pedra-de.html).Tudo mostra haver ainda muito a ser descoberto, não somente no que diz respeito às bromélias deste gênero, mas também na história natural e fitogeográfica desta região, haja vista a virtual diversidade de táxons observados, ao longo do corredor.
Nos arenitos tórridos da MT130, dominados por cerrados rupestres, vegetam pelo menos duas espécies de bromélias do gênero Dyckia, ambas recentemente descritas pela ciência: Dyckia rondonopolitana e Dyckia secundifolia, esta última exatamente a minha velha planta perdida. Dyckia rondonopolitana é planta que se ramifica bastante e ocupa largos espaços, vegetando em frestas de rochas, entre touceiras de gramíneas e até mesmo de forma litofítica, subsistindo diretamente na superfície nua dos arenitos quentes. Já Dyckia secundifolia se restringe a pequenas bacias deflacionares da rocha, onde se acumula areia fina e outros dispersóides. É comum que se associe a formigas e acompanha certa espécie de Velloziaceae, enraizando ambas de forma inquietantemente superficial, sobre o embasamento rochoso quente e drenado.

Veja, a seguir, alguns aspectos ligeiros desta visita aos arenitos que abrigam as Dyckia spp. de Rondonópolis, no Mato Grosso:

Acima - Dyckia secundifolia junto a Vellozia sp., em seu habitat, no Mato Grosso

Acima - Aspecto geral da ocorrência de Dyckia rondonopolitana, nos arenitos de Rondonópolis


Acima - arenito exposto à erosão diferencial, no Planalto dos Alcantilados, onde está o habitat das Dyckia spp. Essa forma é reconhecida como "casco de tartaruga"

Adiante - imagens do habitat de Dyckia rondonopolitana e D. secundifolia, mostrando sinais de forte regime erosivo, em linhas de vazão torrencial, que são as principais forças escultoras do relevo ruiniforme do Planalto dos Alcantilados





Abaixo - populações de Dyckia rondonopolitana, em suas ocorrências típicas






A Seguir - ocorrência de Dyckia secundifolia, notando-se sua predileção por depósitos delgados de areias finas, em depressões do arenito coeso

 Acima - plantas convivendo com ninhos de formigas






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