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terça-feira, 3 de abril de 2018

SERRA DOS PIRINEUS – GOIÁS – PARTE I: EXCURSÃO AO HABITAT DE TILLANDSIA BARROSOAE



Acima – Inflorescências da bromélia Tillandsia barrosoae, espécie endêmica da Serra dos Pirineus


Durante uma visita ao Herbarium Bradeanum (HB), no Rio de Janeiro, em agosto de 1997, o pesquisador Walter Till, do Instituto de Botânica da Universidade de Viena, na Áustria, deparou com algumas bromeliáceas do gênero Tillandsia ali depositadas, que haviam sido coletadas anos antes (1967) pela Professora Graziela Maciel Barroso e que carregavam uma identificação feita por Lyman Smith – Tillandsia lorentziana.     W. Till percebeu que tal identificação era equivocada e que a planta pertencia a outro grupo de Tillandsia, relacionado a Tillandsia didisticha, cuja área natural de ocorrência girava ao redor da fronteira entre Brasil, Paraguai e Bolívia, bem longe do local onde Dona Grazi coletara os espécimes depositados – Serra dos Pirineus, Goiás.

Essa bromélia foi publicada como uma nova espécie para a ciência, em 1998, na Revista Bromélia, da Sociedade Brasileira de Bromélias-SBBr, tendo sido batizada por Till como Tillandsia barrosoae, em homenagem merecida a sua coletora, já então considerada a mais importante botânica da América do Sul. Poucos anos depois, em 2001, eu visitaria uma parcela da área de ocorrência dessa planta, próximo a Pirenópolis, em Goiás, tendo sido, contudo, uma passagem muito rápida. Retornando então do Mato Grosso, em março de 2018, intuí que as encontraria em flores, o que me levou a desviar um pouco minha rota, até a região, na esperança de fazer registros fotográficos e de investigar um pouco melhor a fitogeografia da Serra dos Pirineus.

Não as achei floridas, mas não deixei de aproveitar tão bem a oportunidade de examinar seu habitat e averiguar seu status de conservação, além da flora a ela associada, que é bastante singular. Tillandsia barrosoae é espécie endêmica da Serra dos Pirineus, não sendo muito ampla sua área de ocorrência, mesmo dentro do próprio maciço rochoso quartzítico, relacionado ao Arco da Canastra - Brasília, uma disjunção metamórfica da extensa Serra do Espinhaço, que abriga os domínios dos Campos Rupestres.

Veja a seguir os aspectos comentados desta excursão memorável:

A seguir – A Serra dos Pirineus é encimada por afloramentos de quartzito, que sugerem ser resultado de velhos desnudamentos erosivos do Arco da Canastra – Brasília, afetados por fases de diaclase, o que produz paisagens rochosas muito difíceis de serem examinadas. Fendas e profundos espaços acarretam risco de vida ao excursionista, mas ajudam a preservar Tillandsia barrosoae, em pontos onde as mãos não alcançam





Acima – Tillandsia barrosoae é uma bromélia essencialmente litofítica. Nenhum exemplar sequer podia ser observado fora deste substrato, mesmo tendo Tillandsia streptocarpa vegetando lado a lado, sem que uma se misturasse à outra


Acima – Alguns exemplares de Tillandsia barrosoae se escondem em frestas, ou sob extensões dos quartzitos

Acima – Ameaçadores amontoados de rochas parecem ter sido dispostos por mãos humanas. Tillandsia barrosoae vegeta sobre a superfície dura das pedras, tolerando variações diurnas de temperatura e umidade que outras plantas não suportariam

Acima – A pequena e brava bromélia litofítica mostra sinais de renovação de sua população, sendo encontrados exemplares jovens, lado a lado com outros adultos, nas mais diversas fases de desenvolvimento – a COLETA CRIMINOSA, para fins comerciais, assim como para coleções particulares, parece ser seu principal inimigo atual

A seguir – Algumas outras plantas características dos afloramentos rochosos do Centro-Oeste fazem companhia a Tillandsia barrosoae, sendo as mais notáveis: Aechmea bromeliifolia (Bromeliaceae), Pilosocereus vilaboensis (Cactaceae) e diversas espécies de Vellozia spp. (Velloziaceae). Arvoretas como Clusia criuva, Clusia burchellii (família Clusiaceae) e Schwartzia adamantium (família Marcgraviaceae) formam a maioria do estrato dominante



Acima – Portentosos exemplares da bromélia Aechmea bromeliifolia vegetam sobre patamares de rocha, embora também habitem galhos e troncos, em meio às arvoretas

Acima – A delicada orquídea Bulbophyllum epiphyticum também aparece, ora crescendo sobre galhos e troncos, ora vegetando nas frestas da rocha, junto de Tillandsia barrosoae

Acima – A gesneriácea Sinningia aggregata, com corpulentos tubérculos, é comum na flora da Serra dos Pirineus

Acima – Delicadas flores alaranjadas de Alstroemeria cf. viridiflora (família Alstroemeriaceae), nos rochedos da Serra dos Pirineus

Adiante – Os cladódios do cacto Pilosocereus vilaboensis são espetáculo à parte, na paisagem dentre as rochas da Serra dos Pirineus, exibindo formas esculturais ou formando elegantes conjuntos






Abaixo – A micropaisagem formada por emaranhados de troncos e galhos de elegantes arvoretas confunde os olhos, sendo por vezes difícil discernir o que são plantas do que são pedras


A Seguir – O substrato geral, ao redor dos afloramentos rochosos, é mesmo de litossolos ou amontoados clásticos, onde a pedra quartzítica é o elemento mais marcante. A vegetação que se expressa é aquela conhecida como cerrado rupestre de altitude, podendo abrir espaço a campos sobre rochas, campos entre rochas (campos rupestres) e outras intergradações, nas quais a flora é mesmo do Cerrado

Acima – Na borda de afloramentos, observam-se arvoretas de Mimosa regina (família Fabaceae), agrupadas em populações quase homogêneas e espetadas na pradaria aberta

Acima – Elegante exemplar da melastomatácea conhecida como papiro (Tibouchina papyrus), que se diz ser um dos símbolos de Pirenópolis

Acima – Aspecto de complexo de campos sobre rochas (um campo úmido), observando-se exemplar da pequena palmeira acaule Butia archeri, em meio à macega

Acima – A linda voquisiácea Vochysia rufa, com suas flores amarelas-douradas, contra a paisagem de cerrados abertos

Acima – A orquídea Epistephium sclerophyllum prefere as bordas ensolaradas dos canais dos riachos cristalinos, vegetando acima da floresta ciliar

Acima – Uma das dezenas de cachoeiras que surgem em meio à paisagem de cerrados rupestres e campos de cerrado da Serra dos Pirineus

Acima – Interior da floresta ciliar, ao redor de um poço de águas cristalinas da Serra dos Pirineus

Acima – O autor Orlando Graeff examinando exemplar da bromélia Dyckia cf. weddelliana, em meio ao cerrado rupestre de Pirenópolis

Abaixo – Paisagem campestre da Serra dos Pirineus, destacando o famoso Morro do Cabeludo, forma de rochedo testemunho de quartzito, que marca a área mais elevada do Parque Estadual dos Pirineus, a mais de 1.300m de altitude



Agradecimento – ao meu guia Paulo Padilha, que me conduziu com segurança a todos os ecossistemas da Serra dos Pirineus

PRÓXIMA POSTAGEM – CONHECENDO AS CACHOEIRAS DO DRAGÃO, NA SERRA DOS PIRINEUS

3 comentários:

  1. Na minha região tem uma tillandsia parecida com a barrosoae.como eu faz saber qual a espécie?

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  2. Se você poder entrar em contato 38 999777754 posso te mostrar fotos

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  3. Que fotos maravilhosas <3, ADOREI os registros :)

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