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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

domingo, 17 de janeiro de 2016

SÃO FRANCISCO DO SUL – SANTA CATARINA – DEZEMBRO DE 2015

Entre os dias 11 e 14 de dezembro, vindos de Guaraqueçaba, no litoral do Paraná (ver postagem anterior), permanecemos em São Francisco do Sul, que abre o litoral de Santa Catarina e, como se poderá notar, marca a notável diferença fitogeográfica entre a Floresta Atlântica ao norte e ao sul da Baía de Paranaguá. Naturalistas tão mais importantes que eu, como Kuhlmann, já havia percebido essa diferença e chamado atenção para ela, cerca de um século antes de nossa ligeira passagem por São Francisco do Sul, este ano. Já me eram familiares as áreas litorâneas de São Chico, como é carinhosamente chamada S. Francisco do Sul, na região. Eu as havia percorrido, no início dos anos 1980, à procura de suas praias, muito boas para o surf. Agora, vinha para conferir um pouquinho de sua flora.

Graças à minha grande amiga Inez Raguenet, remanescente do Grupo Quati de Pesquisa e Estudos da Vida Selvagem, que eu fundara com seu irmão Paulo Raguenet, nos anos 1970, pude atalhar sobremaneira minhas andanças pela localidade, pelo fato dela manter residência de praia em São Chico e, com isso, conhecer bons destinos naturalistas. Inez nos encontrou por ali e nos guiou a alguns destinos, indicando alguns outros, o que nos proporcionou boas oportunidades de reconhecimento de sua natureza.

Embora boa parte das florestas de São Francisco do Sul apresentem sinais nítidos de seu caráter secundário, ou seja, de já terem sido mexidas pelo homem, elas exibem bem aspectos de sua natureza original e, em especial, as matas voltadas ao mar, nos costões rochosos, assim como as restingas que recobrem o litoral arenoso, ao sul da ilha, propiciaram excelentes amostras de sua flora e história vegetacional.

Através da galeria de imagens, que exibimos seguir, poderemos comentar alguns dos principais aspectos de São Chico, que seguramente nos levará de volta até lá, em pouco tempo, pelo seu imenso interesse botânico:

Abaixo – Em São Francisco do Sul, inicia-se longa faixa litorânea, com características singulares, entre as quais podemos notar a onipresença de grandes enrocamentos naturais de blocos gigantes de granito-rosa, formados em passado geológico frio e seco. O mar lhes açoita bravio, sem conseguir atingir a floresta tropical atlântica, que inicia então sua gradual transição para formações subtropicais


Acima – Inez Raguenet foi nossa anfitriã naturalista, em São Chico, ajudando a identificar e percorrer destinos representativos na região



Acima – Lantana undulata é alegre presença, na borda das matas de São Francisco do Sul, aproveitando-se das janelas de luminosidade e representando um dos poucos elementos em flores, durante o verão chuvoso, juntamente com Heliconia cf. velloziana – Abaixo



A Seguir – O Parque Estadual de Acaraí sugere ter sido criado em função da ocorrência dos intrigantes sambaquis, que são depósitos conchíferos deixados pelos ameríndios anteriores ao descobrimento do Brasil. Falamos dessas curiosas feições Tecnogênicas em nosso livro Fitogeografia do Brasil (NAU Editora, 2015), assim como na postagem anterior sobre a Baía de Paranaguá. No Parque de Acaraí, os sambaquis formam pequenos morrotes, cobertos de florestas e rodeados por preciosas restingas arenosas, que efetivamente nos interessavam, por seu admirável estado de conservação



Nas fotos anteriores – Podem ser notados aspectos paisagísticos típicos das restingas arenosas do Parque de Acaraí, em São Francisco do Sul: do mar para a retroterra das dunas, observa-se a gradação de vegetações, desde aquela de caráter raso, junto à praia, até matinhas de restinga, que se espalham território adentro e guardam preciosos tesouros florísticos


Abaixo – A orquídea Epidendrum fulgens é marca resgistrada do litoral arenoso de Santa Catarina. Em São Francisco do Sul, ela se espalha decorativamente pelas dunas e chega-se a duvidar não ter sido ali cultivada por mãos jardineiras


Acima – Detalhe de maciço de Epidendrum fulgens


Abaixo – Dunas de areia pura abrigam flora diversificada e atraente, sendo a bromélia Aechmea gamosepala um de seus elementos mais vistosos


Acima – Aechmea gamosepala


A Seguir – A bromélia Vriesea friburgensis, em sua variedade paludosa, possui incrível plasticidade de formas e habitats, ocorrendo desde as montanhas da Serra do Mar e do Maciço da Serra Geral, em SC, até as areias finas do litoral deste estado.


Acima – Vriesea friburgensis paludosa é um elemento similar à sua congênere V. neoglutinosa, do Rio de Janeiro, que ocorre nas restingas de Massambaba, perto de Araruama, e no topo da Serra do Mar, sempre a sol pleno e em meio à vegetação arbustiva

Abaixo – Vista ao longe de um sambaqui coberto pela floresta, que nele encontra solos mais drenados, como observáramos na Baía de Paranaguá (ver postagem anterior)


A seguir – No reverso das dunas, que ocorrem em cordões regulares, ao longo da linha de praia, surge matinha riquíssima em espécies de bromélias, filodendros e centenas de outras joias botânicas, que pretendo ainda investigar, numa próxima oportunidade




Acima – O vistoso Philodendron bipinnatifidum surge com abundância, na flora de aráceas do Parque do Acaraí, adaptando-se esplendidamente ao ambiente e passando a representar elemento marcante da região, daí por diante

Acima – A bromeliácea Aechmea pectinata, que surgia de modo discreto, nas florestas de baixada litorânea do Paraná, também abunda nessas matinhas de restinga, por detrás das dunas de Acaraí, sendo notada por suas folhas avermelhadas, que prenunciam o florescimento

Acima – Esta espécie de Clusia, que é referida como C. criuva, na Região Sul, domina grande parte das florestas em miniatura de restingas das dunas de Acaraí. Também havia sido avistada no litoral do Paraná, embora eu possa afirmar suspeitar se tratar de espécie distinta no gênero (família Clusiaceae)


Adiante – O setor mais ao sul da longa restinga de Acaraí mostra flora gradualmente distinta e convergente para os padrões da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis) e Laguna. Elementos como a bromélia Dyckia encholirioides e o butiazinho-de-praia (Butia catarinensis), que são típicos daquelas zonas, surgem exclusivamente ali, assim como outras poucas plantas de natureza subtropical


Acima – A bromélia Dyckia encholirioides, armada de densos espinhos, surge com maior frequência no setor sul da restinga de Acaraí, em São Francisco do Sul
Abaixo – A escultural palmeira butiazinho-de-praia (Butia catarinensis), que é típica do sul de Santa Catarina, surge ainda de forma discreta, na beira-mar da restinga de Acaraí, em seu setor sul


Abaixo – O urubu-caçador observa as condições da praia, ao sul da restinga do Parque Estadual de Acaraí, em São Francisco do Sul, Santa Catarina






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