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domingo, 24 de julho de 2016

A FLORESTA VALDIVIANA – CHILE – JANEIRO DE 2008

A floresta valdiviana é uma das mais intrigantes formações da América do Sul. Seu nome, evidentemente, advém da região de Valdivia, no sul do Chile, aonde chegamos, em janeiro de 2008, durante nossa segunda expedição ao país. Baseados nesta agradável cidade do litoral, partimos para uma ligeira investigação da natureza desta floresta biodiversa, que ainda recobre algumas áreas ao norte, onde terminamos visitando o Parque Oncol, que resguarda um pequeno fragmento quase intacto destas matas.

A floresta valdiviana já cobriu, outrora, extensa parte do sul do Chile e, em meu livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL – UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015), referi um diminuto fragmento relíquia desta floresta, com fisionomia tropicalizada, ao norte de Valparaíso, em pleno domínio dos desertos, no Parque Fray Jorge. Tanto lá quanto em Valdivia, a floresta valdiviana se origina evidentemente na forte umidade litorânea, sendo uma vegetação sempre verde, de forma diversa daquelas do interior e da zona dos Andes, onde a deciduidade é caráter muito importante.

Tendo conhecido a floresta valdiviana, nesta expedição de 2008, senti-me à vontade para discorrer sobre sua ocorrência disjunta, nas duas extremidades do Chile, para retratar a influência marítima e das barreiras orográficas, na determinação de mesoclimas. Os fatores mais importantes para o surgimento da floresta valdiviana são mesmo essa frentes de umidade e frio, que vêm do Oceano Pacífico, e a longa linha de montanhas costeiras, que atravessa o país, neste trecho. Chove, nesta região, uma ordem de 3.000mm ao ano, além das temperaturas relativamente baixas, o que termina por condicionar o surgimento de uma tipologia que pode ser facilmente caracterizada como floresta subtropical úmida.

No Brasil, poderemos encontrar paralelos muito próximos, nos altiplanos do Sul, na zona da Araucarilândia. As florestas que recobrem as vertentes do Planalto da Serra Geral, escorrendo de sob as araucárias (Araucaria angustifolia), até altitudes relativamente baixas, nas fraldas dos Aparados da Serra, são bastante similares à floresta valdiviana. As floras, contudo, diferem por completo, embora possamos encontrar grupos análogos, lá e cá.

A floresta valdiviana já se estendeu por quase toda a linha costeira de Valdivia, tendo sido severamente impactada pelo desenvolvimento. Hoje, restam poucos fragmentos realmente conservados, sendo o Parque Oncol, que abarca o Cerro Oncol, em Los Rios, pouco ao norte da cidade de Valdivia, um dos mais importantes. Vamos às imagens, para que se possa conhecer um pouco da natureza desta linda vegetação chilena:

Adiante – As belas praias de Valdivia já foram ornadas pela floresta valdiviana, embora anos de atividades agrícolas e florestais tenham legado paisagens abertas e residuais. Porém, a flora característica ainda pode ser observada, ao longo da linha de costa.




A Seguir – Francoa sonchifolia (Francoaceae) é uma planta comum, nas bordas de pedras e taludes, acima das praias de Valdivia. Já se tornou espécie ornamental, mundo afora




Acima – A vegetação campestre, que cerca as praias de Valdivia, é bastante similar àquela que se encontra na Região Sul do Brasil, desde Santa Catarina, no perímetro subtropical úmido do país. As apiáceas do gênero Eryngium, que são os célebres caraguatás, estão presentes, nos compartimentos mais úmidos, exatamente como nas pradarias do Sul Brasileiro

Acima – Scrophualriáceas do gênero Calceolaria são numerosas, com suas flores amarelas vistosas

Abaixo – Praia semideserta de Valdivia, frequentada por milhares de aves marítimas: paisagens bastante similares às de Santa Catarina, no Brasil




Lobellia tupa (família Campanulaceae) é conhecida como “fumo-do-diabo” e vegeta de modo abundante, na faixa litorânea de Valdivia – Acima. Detalhe de suas belas flores – Abaixo



Adiante – Próximo ao Cerro Oncol, a floresta valdiviana ainda cobre boa parte das encostas, debruçando-se diretamente sobre o Pacífico azul profundo. São matas bastante alteradas, mas permitem vislumbrar a flora variada e a fisionomia pujante



Na faixa das marés – A Seguir – o Oceano Pacífico arrebenta poderosas ondas, sobre rochas que se alternam entre massas coesas ígneas ou metamórficas e conglomerados ou Stone-lines de detritos exumados pela tectônica fortemente ativa da região: velhos seixos rolados aparecem, depois de milênios sob a terra, para servirem de abrigo para aves marinhas, que abundam no Chile, em função de seu mar piscoso;





Acima – Bromélias do gênero Fascicularia são local preferido para a nidificação dessas aves marinhas do Chile

Acima - Fascicularia bicolor é bromélia dominante, nas rochas conglomeradas do litoral de Valdivia

A Seguir – Aspectos da floresta valdiviana, na região do Parque Oncol, unidade de conservação fundada em 1989, abarcando montanhas que se elevam até cerca de 700m sobre o mar





Acima – Dentre as numerosas plantas epifíticas da floresta valdiviana, a gesneriácea Mitraria coccinea se destaca, por suas flores em forma de ampolas vermelhas.

Acima – O elegante bambuzinho Chusquea culeou abunda, no sub-bosque da floresta valdiviana e remete à fisionomia de nossa florestas de altitude brasileiras, onde o gênero também é importante


Acima – A bromélia Fascicularia bicolor é o elemento mais vistoso, dentre as plantas epífitas da floresta valdiviana, fazendo lembrar as Billbergia nutans, com aspecto similar, que abundam em nossas florestas subtropicais do Sul do Brasil
Abaixo – A bromélia terrestre Greigia landbeckii é bastante numerosa, no sub-bosque do Parque Oncol



Acima – Amomyrtus meli é uma mirtácea agigantada, cujo tronco luzidio ressalta bastante, na floresta valdiviana

Acima – Alfombras epifíticas de liquens são características do coração úmido da floresta valdiviana, tirando partido das chuvas contínuas do Sul do Chile

Acima – Podocarpáceas são coníferas que abundam, na floresta valdiviana, confirmando a similaridade entre as florestas subtropicais úmidas do Chile e do Brasil, onde as matas também carregam numerosas árvores de Podocarpus spp.

Abaixo – Ovelhas devoram imensas algas, atiradas aos rochedos pelo Pacífico, em Valdivia, no Chile


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