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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

EXPEDIÇÃO À TRÍPLICE DIVISA: MATO GROSSO DO SUL – GOIÁS – MATO GROSSO - outubro de 2018



Acima – O autor Orlando Graeff fotografando o cânion do Alto Taquari, próximo a Costa Rica, MS


Tendo deixado a Serra da Canastra, em Minas Gerais (ver postagem anterior - https://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com/2018/11/nova-visita-serra-da-canastra-minas.html), cheguei à região almejada nesta expedição ao Centro-Oeste: o extenso planalto que congrega a divisa entre os estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso, elevando-se em cerca de 800m acima do nível do mar. A cidade de Chapadão do Sul, MS, foi minha porta de entrada nesta admirável região, onde fui gentilmente acolhido pela Bióloga Lucinéia Freitas Pires e pelo Engenheiro Agrônomo Emerson Ferreira Andrade, que me cumularam atenção, durante toda minha passagem e me abriram portas a diversas oportunidades de contato com a natureza local e com a comunidade acadêmica sul-mato-grossense. Somente poderei agradecer a eles por tudo que fizeram para tornar mais proveitosa minha visita aos ecossistemas deste valioso pedaço do Cerrado.

Sediado na cidade de Costa Rica, cerca de 60km distante da primeira e também pertencente ao estado do Mato Grosso do Sul, tive oportunidade de examinar detalhadamente o vale do rio Sucuriu, tributário da margem direita do rio Paraná; além das vertentes do Alto rio Taquari, tributário do Pantanal / rio Paraguai; e também o Parque Nacional das Emas, no vizinho estado de Goiás, que será contemplado com uma postagem seguida a esta. Costa Rica já havia sido por mim visitada, em (ver postagem - https://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com/2012/07/uma-visita-costa-rica-no-mato-grosso-do.html ), ocasião em que realizei reconhecimento geral, na companhia então do saudoso guia Valdir Justino de Almeida . Daquela primeira expedição, me despertara a vontade de examinar melhor a região à qual dediquei capítulos substanciais de meu livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL – UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015).

No primeiro bloco de atividades, no dia 01 de outubro de 2018, percorremos as nascentes do rio Sucuriu, próximo aos limites do Parque Nacional das Emas, perímetro amplamente ocupado por lavouras extensivas, mas que ainda resguarda importantes fragmentos de vegetações ribeirinhas. Contamos com a orientação do guia Fabiano Ramos, que foi determinante na localização de pontos de interesse científico e geográfico, que são comentados a seguir, através das imagens fotográficas apresentadas:

A Seguir – As cercanias da cidade de Costa Rica são verdadeiro paraíso de paisagens ligadas às cachoeiras do rio Sucuriu, que propiciam excelente destino turístico, mas também servem para se interpretar importantes aspectos da história geológica-geomorfológica do Planalto Brasileiro



Acima – A bromélia Aechmea distichantha é elemento característico tanto das florestas da Bacia do Paraná, a leste/sudeste, quanto do domínio do Chaco, a oeste/sudoeste. Nas margens do Sucuriu e seus tributários, encontramos esta bela forma da planta

Acima – Magnífico salto do rio Sucuriu, que nasce muito perto dos limites goianos do Parque Nacional das Emas


Adiante – Em seu curso mais alto, o rio Sucuriu escorrega por notáveis afloramentos de arenitos e lateritos frágeis, que vêm lhe determinando níveis acelerados de erosão remontante. Em suas margens, neste trecho, predominam elementos florísticos do Cerrado, em vista de sua gradativa proximidade com um dos mais genuínos fragmentos deste domínio de paisagem, que é o Parque das Emas, a norte

Acima – Aechmea bromeliifolia (família Bromeliaceae) que caiu ao solo e passou a vegetar sobre ele, mostrando notável adaptabilidade

Acima – Aechmea tocantina é uma bromélia muito dispersada entre o sul de Goiás / Mato Grosso do Sul e o norte do Mato Grosso, adentrando o Pará e o Amazonas. No alto rio Sucuriu, próximo ao Parque das Emas, é elemento importante da flora epifítica
Abaixo – Detalhe de uma grande soqueira de Aechmea tocantina sobre o leito do Sucuriu


Acima – Orlando Graeff examinando a bromélia Aechmea tocantina, no rio Sucuriu

Acima – Dyckia aff. silvae Costa Rica

O gênero Dyckia da família Bromeliaceae representa importantíssimo referencial botânico a marcar a história natural Quaternária deste setor do país. Em nossa expedição, encontramos diversas populações disjuntas delas, que vêm sendo registradas, cuidadosamente. Esta planta acima, com delicadas flores amareladas, foi observada sobre rochas das margens do rio Sucuriú e apontada pelo naturalista Walter Miguel Kranz como sendo Dyckia aff. silvae, que lhe apôs o epíteto "Costa Rica”. Kranz é diligente investigador do gênero e tem viajado com frequência pelo MS, GO, MT e outros estados, atrás de informações sobre essas plantinhas misteriosas


A Seguir – A interposição entre áreas secas e saturadas é mesmo determinante no surgimento de paisagens arborizadas e campestres, exatamente como temos postulado, no âmbito de nossa obra FITOGEOGRAFIA DO BRASIL (NAU Editora, 2015), e essa era uma das missões, nesta exposição: conferir mais uma vez nossas hipóteses fitogeográficas. As imagens abaixo dão conta de importantes aspectos, neste sentido

Acima – Essa curiosa espécie de Miconia (família Melastomataceae), de índole palustre, acompanhava quase que exclusivamente a distribuição de áreas alagáveis, no alto curso do rio Sucuriu

Abaixo – Largos campos de murundus abrigavam essa bela Miconia sp., com suas flores alvas, formando admiráveis quadros paisagísticos, nas cabaceiras do rio Sucuriú, já muito próximo à divisa com Goiás e com o Parque Nacional das Emas


  Acima – Varjões inundáveis das cabeceiras do rio Sucuriu


Acima – Águas marrons mostram alta carga de matéria orgânica dissolvida, nos varjões do alto rio Sucuriu

Acima – O pindaival, que são agrupamentos densos de pindaívas-retas (Xylopia emarginata – fam. Annonaceae), costuma evidenciar a presença de canais de drenagem natural dos varjões do Centro-Oeste


O segundo bloco de nossas atividades orientou-se para as vertentes do Alto Taquari, a cerca de 50km de Costa Rica, voltadas ao Pantanal Mato-Grossense e que representavam um dos maiores interesses de minha passagem pela região. A visita à região tinha como objetivo central o exame in loco da geomorfologia do sistema de chapadões e pediplanos, que originaram a paisagem botânica da tríplice divisa de estados. Tais aspectos geomorfológicos contribuíram, de um lado, para a formação de extensas superfícies de cimeira planáltica que se distribuem entre os três estados e que lhes contemplou determinante parque produtivo agrícola; e de outro, na direção oeste, a formação do maior leque aluvial do planeta – o Leque Aluvial do Rio Taquari, que compõe um dos mais deslumbrantes e diversificados conjuntos de paisagens do Pantanal, dividindo-se entre as sub-regiões do Paiaguás e Nabileque. Sob este enfoque, o reexame do Parque Nacional das Emas, a ser relatado na próxima postagem, seria igualmente importante.

Participaram desta excursão, além dos integrantes daquela da véspera, pelo rio Sucuriú, o talentoso fotógrafo de vida silvestre José Alberto Miranda – o Jota – e o Agrônomo Emerson F. Andrade.  Foi escolhida uma linha de cumeada de um dos morros-testemunho do “cânion” do Alto Taquari. A meseta foi investigada, de uma ponta a outra, não sem extremo sacrifício, em face do calor escaldante que marcou todo o Centro-Oeste, naquele dia, fazendo-nos sofrer bastante, quando tivemos o sol a pino sobre nossas cabeças. Mas, nada deteria um grupo tão coeso no intento de examinar palmo a palmo as cabeceiras do maior leque aluvial do planeta: o Leque Aluvial do Taquari, que se estendia por quase seiscentos quilômetros, dali até a margem do rio Paraguai, na vertente boliviana do Pantanal. A série de fotos a seguir poderá mostrar apenas parte do tesouro de aspectos naturais que tivemos à nossa frente, nessa magnífica excursão.

A Seguir – O cânion da cabaceira do rio Taquari, próximo a Costa Rica, corresponde à fronteira natural entre as extensas superfícies de cimeira planas Cretáceas e as profundas depressões erosivas de idade Quaternária, que originaram o Pantanal, centenas de quilômetros abaixo, no sentido oeste. Essas admiráveis paisagens de pediplanos exibem, de forma dramática, a história geomorfológica da região




Acima – Essa longa mesa erodida, que exibe claramente a longa operação de megaprocessos de erosão diferencial, foi palco de nossa excursão, num dia ensolarado e muito quente, em que vasculhamos essa cumeada, de uma ponta a outra, examinando cada um de seus patamares, com vegetações características e flora incrivelmente conservada

Acima – Sobre a linha de cumeada da longa formação tabuliforme, impera vegetação de cerrados rupestres, com fisionomia entre arbustiva e arbórea pobre, assentada sobre terrenos clásticos, que pouco mais exibe que pedaços de rochas de arenito fragmentado


Adiante – Nas bordas de rocha arenítica exposta, que ainda retém massas de solos e regolitos decadentes, vegetam mais bromélias do gênero Dyckia, de que falamos antes, e que seguem sua misteriosa dispersão testemunhal de duros tempos Terciários e Quaternários inferiores. Walter Miguel Kranz, conhecedor de suas rotas migratórias pretéritas, afirmou se tratarem essas plantas afins a Dyckia grandidentata, que denominou então Dyckia aff. grandidentata “Costa Rica”. De nossa parte, esperamos um dia vê-las resolvidas, quanto às suas identidades




A Seguir – A erosão natural prossegue esculpindo o relevo do pediplano do rio Taquari, mostrando que o clima subúmido que aí impera trata de lhes arredondar as formas, passo a passo. Somente poderemos tomar como herança do passado semiárido de uns 20.000 anos passados os íngremes paredões, que ainda marcam a paisagem local






Adiante – Velhos patamares escalonados, debruçados sobre elevados paredões (frentes de cuestas), são testemunhos de fases diferenciais de deposição sedimentar, centenas de milhões de anos atrás; e de regimes igualmente diferenciados de erosão, em passado bem mais recente. Abrigam vegetação de campos sobre rochas, onde vegetam gramíneas (Poaceae), ciperáceas, xiridáceas e eriocauláceas de aspecto curioso. Não restam dúvidas sobre a importância de realizar estudos dessa flora campestre




Acima - Trimezia juncifolia (fam. Iridaceae)


Acima – A notável Norantea guianensis (fam. Marcgraviaceae) conhecida como rabo-de-arara se debruça nos íngremes paredões de arenito, enfiando suas raízes persistentes em fendas da rocha e colaborando no lento processo de degradação das velhas encostas. Suas inflorescências encarnadas representam precioso suprimento de energia aos beija-flores e pequenas aves, em meio à aridez da paisagem


Acima – A resiliente orquídea Epidendrum campestre vegeta em diversos substratos relacionados à rocha arenítica e pode ser contemplada em barrancos, ou até mesmo dependurada sobre íngremes paredões – Abaixo



Acima – Tatu-peba (Euphractus sexcintus) avistado pelo nosso guia Fabiano Ramos




Acima – Ao menos quatro indivíduos do magnífico urubu-rei  (Sarcoramphus papa)nos seguiram de longe, durante longo tempo, por vezes realizando rasantes impressionantes, para depois se afastarem novamente

Abaixo – Nosso grupo, figurando Fabiano, ao fundo, seguido por Lucinéia e Emerson, além do fotógrafo Jota, em primeiro plano




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