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sexta-feira, 27 de abril de 2012

DO SEMIÁRIDO À FLORESTA AMAZÔNICA – PAÍS DE CONTRASTES


               Não se pode afirmar exatamente que a viagem entre a Serra da Capivara, no sul do Piauí, e a cidade de Belém do Pará seja curta o suficiente para justificar a surpresa com os contrastes avistados. Afinal, foram nada menos que 1.200km, em dois dias de volante, entre as duas localidades. Mas, não haverá como deixar de se surpreender com a imensa modificação das paisagens, passando da mais seca caatinga, para uma floresta densa e hiperúmida. Sob o calor do sol, na Serra da Capivara, a sensação é desgastante, mas não pode se comparar à opressão úmida do ambiente amazônico: Sudorese intensa; roupas sempre molhadas de suor; e certa dificuldade de manter razoável nível de atividades.

               Na Bahia, havíamos nos deparado com interfaces climáticas e vegetacionais tão mais abruptas, dando-se em poucos quilômetros, na altura de Boa Nova e Vitória da Conquista. Mas, por lá, atravessávamos a grande barreira do Planalto Atlântico, que alterna altitudes de centenas, até quase um milhar de metros, em algumas dezenas de quilômetros. Além disso, estávamos na zona das grandes massas frontais de ar, que provêm do Atlântico Sul. Já entre o Piauí, o Maranhão e o Pará, estados que atravessei, nestes dois dias de viagem, imperam extensas depressões planálticas, que produzem relevos mais suavemente inclinados, passando a impressão de que pouco subimos ou descemos. Mas, não há dúvidas: Operam ali imensos corredores e fronteiras climáticas, ocasionando notáveis modificações vegetacionais.

               Saí de altitudes da ordem de 500m, na Serra da Capivara, para compartimentos intermediários, por volta dos 200-300m, na divisa com o Maranhão, onde caíram para até 30-40m. Todas essas interfaces e naturezas vegetacionais são importantes para o entendimento da Fitogeografia do Brasil. Por isso, empreendi viagem tão extenuante, sem deixar de ser imensamente prazerosa. Afinal, nenhuma outra experiência poderia ser mais agradável ao naturalista que percorrer as terras do país. Sobre essas paisagens botânicas, que observei, nesta longa jornada, dos dias 24 e 25 de abril, entre Nordeste e Norte, faço alguns poucos comentários, acompanhados das imagens a seguir:

Na foto abaixo: Assim que descemos do planalto da Serra da Capivara, no rumo norte, percebe-se rápida modificação no aspecto geral da vegetação. Os elementos arbóreos são muito similares à floresta nanica do alto da chapada. Porém, percebia-se que se encontrava tão mais atrasada, em sua queda de folhas, mostrando-se ainda bem viçosa. Árvores das mesmas espécies da Capivara eram ali mais altas e a vegetação se adensava.




Nas imagens a seguir: Os célebres carnaubais são adensamentos da palmeira-carnauba (Copernicia prunifera), que podem ser vistos, à margem de lagoas e baixadas, em toda interface entre Semiárido Nordestino e Amazônia.






A Mata de Cocais: É uma zona com dimensões quase continentais, estendendo-se entre a Amazônia perúmida e o Nordeste Semiárido e contando com larguras de até centenas de quilômetros de adensamentos da palmeira-babaçu (Attalea speciosa). Há quem caracterize a zona dos cocais como autêntico bioma, o que somente depende da escala de abordagem. Tive bastante oportunidade de observar sua natureza, relacionando-se com solos, clima e atividades humanas muito antigas. Infelizmente, encontra-se hoje completamente dissociada de sua história extrativa tradicional e acaba se vendo encarada mais como um entrave à pecuária, que um bônus silvestre, que já foi um dia.








Abaixo: Há no Maranhão, adentrando o Piauí, um tipo de vegetação denominada cerrado, que, nesta área, possui natureza divergente daquela dos cerrados do Centro-Oeste. Sua flora é principalmente amazônica e nordestina, sendo condicionado por solos litólicos (com rocha quase aflorante), opostos aos latossolos profundos do Brasil Central. Olhos pouco treinados não notarão qualquer diferença.



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