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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O VALE DO JEQUITINHONHA

               Não foi assim tão fácil deixar Grão Mogol, depois de ter conhecido sua gente e suas paisagens. Mas, a expedição precisava prosseguir e eu já tinha encontro marcado com meu amigo e companheiro de viagens pelo Brasil, Maurício Verboonen, que chegaria a Ilhéus, vindo do Rio de Janeiro, para conhecermos a interface entre a exuberante floresta da região do cacau e o Planalto de Vitória da Conquista, onde imperam vegetações áridas de notável diversidade. 
               Minha viagem prosseguiu, então, pelo Vale do Jequitinhonha, seguindo-o até próximo de sua barra, no litoral da Bahia, junto a Salto da Divisa. O Vale do Jequitinhonha é famoso e já moveu muitas histórias, desde tempos imemoriais, quando índios Botocudos dominavam e aterrorizavam os colonos portugueses, nos Séculos XVIII e XIX. Saint-Hilaire conheceu o vale e os Botocudos, tendo discorrido longamente sobre Joaíma, famoso cacique daqueles índios, depois extintos. O naturalista francês chegou até Araçuaí e as margens do Jequitinhonha, no final da segunda década do Século XIX, tendo referido suas florestas de admirável beleza que, em grande parte, assim como os Botocudos, extinguiram-se definitivamente. 
               Mas, ainda pude observar alguns preciosos fragmentos dessas florestas, que me permitiram interpretar razoavelmente sua natureza. Esse trabalho de investigação das vegetações do Brasil vai se tornando atividade quase pericial, nesta segunda década do Século XXI, quase dois séculos após a passagem de Saint-Hilaire. Do que pude observar, já existiram vastas florestas estacionais, com pronunciada aridez, no alto e médio Vale do Jequitinhonha. Hoje, grande parte das matas que cobriam as superfícies de cimeira das chapadas argilosas, entre Grão Mogol e o município de Berilo são cobertas por eucaliptais, que atravessei, ao longo de muitos quilômetros. 
               Próximo a Araçuaí, podem ser observadas florestas decíduas, cujo aspecto desfolhado se antecipou sobremaneira, neste ano de secas precoces e um tanto severas. Lindas arvoretas de Bougainvillea sp. Se mostravam indiferentes à seca, que ressaltava a forte presença de mandacarus (Cereus jamacaru), que são cactáceas indicadoras do perímetro semiárido do país. 
               Durante esta viagem pude observar a primeira divisa de incrível nitidez entre o perímetro semiárido e as florestas densas e úmidas do litoral, na altura da cidade de Jequitinhonha. Ali, podem ser vistas matas notáveis, que justificaram a criação da Reserva Biológica da Mata Escura. Deste ponto para diante, a presença das florestas, hoje quase completamente desaparecidas, se tornaria uma constante, até que adentrasse a Costa do Cacau, na Bahia, onde elas passam a dominar, graças à cultura do cacau. Mas, isso será assunto para outra postagem, quando comentarei nossa passagem pela região de Ilhéus e Itabuna. Acabei pernoitando em Itabuna, aonde cheguei ao entardecer do dia 15 de abril, depois de ter rodado cerca de 500km, pelo Vale do Jequitinhonha.


Fotos abaixo: A linda Bougaivillea sp., que povoa nossos jardins, nas grandes cidades, é uma das espécies mais resistentes das florestas secas do Vale do Jequitinhonha. Nessas duas imagens, ela aparece próxima e pontilhando a mata decídua das encostas, próximo a Araçuaí, em Minas Gerais.







Fotos Adiante: Os despenhadeiros do Vale do Jequitinhonha, próximo à Usina Hidrelétrica de Irapé, ainda exibem florestas relativamente intactas. Sobre as chapadas planas, no entanto, nada mais pode ser visto que não sejam intermináveis eucaliptais.





Fotos a Seguir: O Planalto Atlântico domina a paisagem, entre Itaobim, próximo à BR-116, e o litoral da Bahia. Seus pontões e afloramentos graníticos se exibem como gigantescos monumentos às convulsões da Terra, de centenas de milhões de anos atrás. Também condicionam toda a climatologia da região e, é claro, suas vegetações.





Fotos Abaixo: O embate entre o homem e a floresta vem sendo perdido pela segunda, há muito, no Vale do Jequitinhonha. Das florestas avistadas por Saint-Hilaire, duzentos anos atrás, restaram alguns portentosos madeiros, além de matas danificadas e confinadas entre talhões de eucalipto.










5 comentários:

  1. Bela viagem, Orlando! Havia perdido os primeiros posts, mas agora já recuperei o atraso e vou acompanhar de perto! Obrigada por dividir online! Liana John

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  2. Parabéns, Orlando pela iniciativa que reativa a importância do olhar e do registro naturalista! Abraços, Luccas Longo

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  3. Agradeço aos meus amigos pelo apoio e pelo prestígio, ao acompanhar minha viagem pelo Nordeste Semiárido, que ora enfrenta as agruras de uma seca sem precedentes, nos últimos trinta anos.

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  4. Olá amigo, meu nome é Reginaldo de Vasconcelos Leitão e também sou um grande admirador da natureza e das plantas, em especial das orquídeas e bromélias. Sou também amigo do Elton Leme e colaborador com os estudos referentes as bromélias da minha região. Espero que um dia você venha visitar a minha região. Moro em Governador Valadares-MG.
    Abração e sucesso!

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  5. Obrigado pelo convite, Reginaldo. Caras como o Elton e eu vivem obstinadamente, FORA das instituições oficiais, fazendo ciência, mesmo sem contar com o braço forte do poder público. São os para-acadêmicos, que só podem contar com a ajuda prestimosa de pessoas como você, Brasil afora. Aparecerei, pode estar certo.

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